“A energia que vem da erva mate”
No dia 24 de Abril comemora-se no Rio Grande do Sul, o “Dia do Chimarrão”, instituído pela Lei Estadual nº 11.929, de 20 de junho de 2003, de autoria do Deputado Giovani Cherini.
Conta-se na história que a erva mate era elemento básico na alimentação dos Guaranis, cuja tribo se espalhava pelo vasto território, banhado, sobretudo, pelos rios Paraná, Uruguai e Paraguai. Outras tribos, porém, em cujas terras a planta não medrava, realizavam ativo comércio de troca com a bebida, cujo transporte era feito por milhares de quilômetros, através de difíceis caminhos, que atravessavam muitas vezes os Andes para chegar a Bolívia, ao Peru e ao Chile. Ainda, segundo Temístocles Linhares em seu Livro, a História Econômica do Mate (1969), descobriu-se perto de Lima no Peru, que os Incas faziam, com folhas de erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hil., armas, tecidos e jóias. Os Guaranis tinham como hábito o uso de uma bebida feita com folhas fragmentadas, tomada com um pequeno porongo, através de um canudo de taquara, que chamavam de “Caá-i” (água de erva saborosa).
O uso do mate difundiu-se pelas Colônias Espanholas em 1.536. Relatos dizem que os soldados espanhóis que aportaram em Cuba, foram ao México “capturar” os conhecimentos das civilizações Maia e Azteca. E neste ano, desceram até a foz do Rio Paraguay, lá encontraram os habitantes locais bebendo um estranho chá de erva. O hábito dos índios contagiou os conquistadores Espanhóis, pois se sentiam revigorados, saciados e ativos. A notícia se espalhou e o costume se difundiu pelas Colônias e Reduções Jesuíticas.
A planta erva-mate esta dispersa em 540.000 Km2, ocorrendo naturalmente no Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul), Argentina (Missiones) e Paraguai, entre as latitudes 21° e 30° Sul, longitude 48° e 56° Oeste, com altitudes variando de 200 a 1.200 m. Trata-se de uma planta endêmica, ou seja, só existe nesta faixa do planeta e que habita a Floresta Latifoliada e as Matas de Pinhais.
Este cidadão vegetal exemplar, trouxe o progresso e desenvolvimento a locais ermos, pequenas vilas e povoados, fez surgir imensas riquezas no Paraguai, e no sul do Brasil. O estado do Paraná se emancipou de São Paulo graças ao comércio intenso da erva mate. Na época, virou moeda corrente, e no lombo da mulas e das “bruacas” dos tropeiros espalhou-se pelo Brasil. Ganhou o mundo pelos Jesuítas, como “Erva Milagrosa”.
Suas propriedades medicinais continuam sendo cultuadas de mão em mão, pelo habito do chimarrão (infusão de água quente em fragmentos de folha e talos moídos), tererê (infusão em água fria), chá mate, e recentemente refrigerante.
Seus adeptos chegam a mais de 100 milhões de americanos, embalados pelo hábito arraigado nas tradições típicas de cada país deste continente, especialmente o Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile; e na crença da bebida natural e milagrosa ao organismo humano, pois alimenta, prolonga a vida das células, é reconstituinte, dá força e energia. Atualmente, o produto mate vem ganhando o mundo, o Brasil já exporta para 30 países, sendo os maiores importadores, o Uruguai, Chile, Japão, Alemanha e EUA.
Estudos e análises sobre a erva-mate têm identificado diversas propriedades nutritivas, fisiológicas e medicinais, conferindo-lhe características de um alimento quase completo, pois contém boa parte dos nutrientes necessários ao nosso organismo. O Instituto Pauster da França constatou a presença de 152 principios ativos nas suas folhas. Em sua composição química há alcalóides (cafeína, metilxantina, teofilina e teobromina), taninos (ácidos fólico e cafeíco), vitaminas (A, B1, B2, E e E), sais minerais (alumínio, cálcio, fósforo, ferro, magnésio, manganês e potássio), proteínas (aminoácidos essenciais), glicídios (frutose, glucose, rafinose e sacarose), lipídios (óleos essenciais e substâncias ceráceas), além de celulose, dextrina, sacarina e gomas.
Suas propriedades terapêuticas são inúmeras, é estimulante da atividade física e mental, atuando beneficamente sobre os nervos e músculos, e eliminando a fadiga. Atua sobre a circulação, acelerando o ritmo cardíaco e harmoniza o funcionamento bulbo-medular. Age sobre o tubo digestivo, facilitando a digestão. É ótimo remédio para a pele, reguladora das funções do coração e da respiração, além de exercer importante papel na regeneração celular. Por tudo isso, diz-se que a erva-mate é uma verdadeira farmácia viva.
O produto mate fez adeptos e consumidores, uma verdadeira confraria, que se espalha pelo planeta.
No Estado são cultivados 30.000 hectares em 13.000 propriedades familiares, abrangendo 267 municípios do Rio Grande do Sul. A erva-mate abastece 230 indústrias genuinamente gauchas, gerando perto de 150.000 empregos diretos e indiretos, e recursos na ordem de R$ 180 milhões/ano.
Pela sua importância econômica, social e ambiental, recentemente o Governo Estadual criou o FUNDOMATE – FUNDO DE DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DA ERVA MATE – Lei Estadual nº 14.185, de 28 de Dezembro de 2012, cria mecanismos para o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva da erva mate no RS, com base em políticas de estado, de forma consistente e duradoura.
O Chimarrão é muito mais que uma bebida, um chá, porque transcende a questão meramente alimentícia e habitual, pois representa à cultura, a tradição, a história do povo gaúcho, tornando-se um símbolo. O símbolo da amizade e da hospitalidade gaucha. Quando aqui aportam estrangeiros e brasileiros de outros estados, logo lhes oferecemos um chimarrão.
Brindemos todos com um ótimo e cevado mate!
Alfeu Strapasson
Presidente Sindimate